domingo, 26 de dezembro de 2010

Verão

Tempos difíceis,
eu juro.


NDS

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Aquele da pracinha

a gente se ilude com tudo.

e se sente
inútil
ou vazio
quando escurece

na pracinha,
eu te encontro
de olhos fechados
andando de mãos
não-dadas
(é incrível como você
se recusa
a segurar minha mão)

nessa noite chuvosa
só sei que não vejo nada no céu


NDS

sábado, 4 de dezembro de 2010

contrariedades

você quer
você pede
você faz
você pode

você julga
você grita
você manda
e desmanda

joga os dados, pula a cerca
invade as casas
contra-mão, contra as regras
contra tudo

mas ainda assim você ganha
pela força
e por pura sorte
você se vira e descobre
que eu ainda estou aqui

te esperando


NDS

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Seu veneno

poesia é essa merda de veneno correndo aqui por dentro
corroendo cada parte de carniça velha
que apodrece cada dia mais com palavras amargas
poesia é essa besteira que enfiam nas nossas cabeças
enquanto dormimos ou comemos ou vivemos e morremos
são essas flores mortas cercadas de espinhos e mato
e vem você, jardineiro, e destrói meus canteiros
mastiga os espinhos e vomita na minha porta.

e poesia é isso que nos escapa da boca em forma de gemido
contido e desmedido - porque não faz sentido e nem deve fazer.

aos desavisados, poesia tem rima e tamanho definido
começo meio fim num esquema de começo meio fim
aos destemidos, poesia sequer existe e inexiste
assim sem letra-letra-letra-ponto.
se alguém ainda tem coragem de se dizer escritor
então poesia é tudo
(e só)
o que eles sabem fazer
mas não há tolerância ao escritor-destemido-desavisado
que mal suporta o peso do que se cria.

quando se melhor define, sabemos que é sangue
carne músculo ossos dor
então podemos dizer que isso é a verdadeira poesia
de quem vive como tal.


NDS

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Vento

era só deixar tudo leve de novo
assim, eu deixo que você me leve
pra onde for

então deita comigo
no chão
num lugar só nosso
no meio do mar

e segura de leve minha cintura
pra ninguém te levar pra longe
de mim
ou de onde for


NDS

sábado, 23 de outubro de 2010

Rodapé

Só me devolve aquele sorrisinho de lado que você sempre arranca de mim e está tudo bem de novo.


NDS

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Como a cidade vai te engolir...

Por causa dessa vida louca
sem tempo, sem regras
sem vida
(sentimentos aqui)
você há de acordar um dia
e notar: não há
A cidade grande te engoliu

Você perderá o sono
a fome, a calma
e estará cheio
sobretudo do cliché barato
(e nenhum desses casacos grandes
será capaz de aquecer a alma)

A cidade do cinzasemcor
será seu reflexo perfeito


NDS

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Realismo convincente

Te conheci na fila do banco. Fila do banco! Como eu poderia conhecer alguém na fila do banco se eu mal vou ao banco? Pago todas minhas contas pela internet, é mais rápido e não tão extenuante. Mas aí você veio andando cabisbaixo e tropeçou em mim. Isso é tão cliché e bobo que eu nem quero continuar... Me apaixonei. Foi assim: fácil e rápido. Me apaixonei por você em menos de cinco segundos. E então me deu vontade de correr para a maldita fila do banco todos os dias. Se bem que você não paga contas todos os dias. Nem eu. Estou agindo como uma babaca apaixonada, não? É isso que afasta as pessoas? Se apaixonar perdidamente em questão de segundos e querer estar perto para sempre? Droga, eu vou estragar tudo, então! Quero te ver todos os dias, o tempo todo, quero tropeçar nos seus tênis sujos que não combinam com o resto da roupa, quero ter nossas contas misturadas e rir porque seu sobrenome é engraçado e meu nome combina bem com ele, quero ouvir você pedir desculpas rindo... Você é uma gracinha.

Bom dia, meu bem. Já estamos nos vendo faz quase um mês. Você me faz bem. Você me ajuda a esquecer alguns problemas da vida. Estou tão cansada de viver por aqui. Te encontrar foi minha salvação. Pensando bem, acho que já tinha te visto antes. Mas não sou de reparar tanto assim. É que você realmente é uma gracinha. Adoro as músicas que você ouve. Adoro os livros que você lê. Adoro seus rabiscos noturnos. E não me importo em ser repetitiva. Tudo isso está mesmo me fazendo bem. Agora eu te ajudo a pagar as contas pela internet também, mesmo você achando que vão zerar sua conta. Mas foi um risco que você aceitou assumir. Por falar em riscos, preciso te ensinar a arriscar mais. A vida se baseia em 50% de chances de ganhar e 50% de chances de perder. Como eu ando muito otimista, mudei minhas chances para 60/40. Eu me apaixono por você um pouquinho mais a cada dia. É bom como acordar sorrindo e ir dormir com seu cheiro na pele. E rir porque você se assustou com uma abelha. Agora acho que nossos sobrenomes combinam mais ainda. Meu Deus, o que está acontecendo comigo?!

Desculpa, não sei se entendi direito. Você está mesmo dizendo que... que vai embora? Por que você está dizendo isso? Calma, calma. Deixa eu respirar um pouco. Quer dizer que de repente você acordou achando que fugir de mim era mais fácil? É isso, então? Você passou um mês querendo cuidar de mim e agora resolve sentir medo e sumir? Olha, a porta está bem ali. Pode ir e se virar sozinho com a fila do banco. Pode ir tropeçar em outra menina distraída. Você quer que eu tenha uma reação positiva?! Tudo aqui está na base de 30/70, portanto muitas coisas darão errado de hoje em diante. Ah, não venha dizer que eu te faço feliz, não seja ridículo. Não ouse aparecer aqui em casa com flores ou poesias. Não quero nada disso. Não quero, não quero. Me explica o que deu na sua cabeça pra me dizer que agora só quer me ver de vez em quando, me diz porque você não olha mais nos meus olhos. Vai dar de covarde? Prefere não me ter a correr aquele maldito (e inevitável) risco de me perder? Bem, a vida é sua, não é mesmo? Seja feliz assim. E lave seus tênis, por favor.


NDS

terça-feira, 14 de setembro de 2010

qualquer coisa

resolvi te escrever qualquer coisa
pra mostrar o que eu sinto por você:
qualquer coisa
boa ruim neutra
é qualquer coisa
e eu jogo isso fora todos os dias
mas quando acordo na manhã seguinte
estou cheia de novo
e preciso me esvaziar diariamente
constantemente
dessas coisas que eu sinto
e que me lembram seu sorriso
de boca fechada
ou a maquiagem malfeita
e seu cabelo descuidado
todo bagunçado
de qualquer coisa
que não eu

resolvi sempre te escrever
qualquer coisa
quando eu não souber o que fazer
com o meu medo
com a minha fome
ou com essa raiva de qualquer coisa
que normalmente
é você


NDS

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Nota

Não consigo escrever e isso é tudo por hoje.


NDS

sábado, 21 de agosto de 2010

Plano

nas horas mais frias
eu me lembro que tenho pelo menos dois motivos
para me chatear com cada pessoa que conheço.
e me torno incrédula.
tudo é pouco e chato
me alimento do vazio itinerante
de um ar meio patético meio pesado
meio nada com nada
mas dá para encher o peito
e gritar na face artificialmente corada
daqueles que me cruzarem
que pouco me importa se eles vivem sorrindo
não sou um poço de risinhos estridentes
e sequer mostro meus dentes para essa gente.
de oneroso o que há de maior
é essa vida
ou o teatrinho montando no meio da avenida
de cambaleante há o amor
do escuro abafado que me tira a paz e o fôlego
de perpétuo e (i)lógico
esse calvário.
essa vida.


NDS

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

---

eu queria te olhar
segurar suas mãos
-não, sem mãos dadas
você me diz
então só os olhos
e o pensamento afinado

suas janelas
seu sol e seu vento
como um abraço

é engraçado ouvir as crianças
mas eu prefiro segurar suas mãos.


NDS

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Août, je t'aime

-olha, eu só quero que você me segure antes de eu cair, tá bom? e se você achar que não vai me aguentar, então avisa, porque aí eu não fico esperando ninguém me segurar.
-por que você tá me dizendo essas coisas?
-porque eu sonhei que você me deixava cair.
-só assim? te deixava cair e puf?
-você disse que tinha medo de agosto.
-agosto? o mês de agosto? você tá louca?
-é, o mês. você disse que tinha uma energia ruim. e aí eu caía e você não estava lá pra me segurar.
-você tá ficando doida.
-você tá me deixando cair um pouquinho a cada dia.
-eu tô te segurando agora mesmo! olha, cruza os braços ao redor do meu pescoço. bem forte, isso. agora me prende com as pernas também. pronto, tá segura!
-mas assim sou eu me segurando em você e não você me segurando.
-é, é verdade... então me dá as mãos. agora estou te segurando bem forte.
-é.
-ainda tá com medo de cair?
-estou. é inevitável. você tem medo de agosto e eu tenho medo de cair.


NDS

domingo, 1 de agosto de 2010

Garganta

de uma pessoa
não se salva nada além do sangue
sua memória é fria
tudo segue se esvaindo
como sempre

você come e passa
você mata e é isso
dois corpos unidos
dois copos e o meu

te acostuma o que é comum

não muda e...

e segue a pessoa

e a morte
mas eu salvo o sangue
porque me esquenta
e me banha carmim


NDS

sexta-feira, 23 de julho de 2010

eu quero

queria te fazer feliz. queria te fazer sorrir. e ouvir da sua boca quase muda que eu te faço feliz. que te faço sorrir. que te deixo leve e dá até vontade de dançar. se você me dissesse isso, eu ficaria feliz. e teria um sorriso marcado à fogo na carne. e me sentiria tão leve que dançaria com o vento nos cabelos soltos. não vale a pena deixar o cabelo preso se você estiver ao meu lado. cabelo solto é muito mais bonito. quando uns fiozinhos escapam da ordem dos demais e se misturam aos seus olhos, nariz e dentes, você fica ainda mais encantadora. e quando os mesmos fios se envolvem nos meus fios, aí então somos o que há de melhor em poesia e música. queria te abraçar e sentir seu coração batendo rápido (nessa hora você deve dizer que ele bate intenso assim porque está sentindo o meu bater da mesma forma). queria tocar sua pele fresca de leve e ouvir sua risada, porque isso te arrepia. bom, costuma me arrepiar. queria te abraçar pela cintura e rodar com você por um tempo enorme, só para você me apertar forte e dizer no meu ouvido que eu fico linda rodando. aí então iria te chamar para a janela. e na janela, nós veríamos o tempo passar, sem qualquer preocupação com a passagem dele. ah, tem outra coisa! enquanto você estivesse dormindo, iria ficar sentada ao seu lado, te admirando. mas isso é segredo. queria cantar bonitinho para cantar pra você, quando você estivesse triste ou chateada com alguma coisa. e se eu fosse o motivo, te daria meus melhores abraços para me desculpar e te trazer para perto. queria te fazer feliz de verdade. e queria você aqui comigo. sempre.


NDS

segunda-feira, 19 de julho de 2010

a continuação

estou aqui de novo, para te dizer algumas coisas. mas nada sai, nada se sustenta fora de mim. é como se eu colocasse pra fora meus pedaços e isso não significasse nada. me diz o que você sente quando recebe minhas cartas. me diz qualquer coisa. pode dizer até que lê sem vontade e guarda naquela sua gaveta emperrada. pode dizer que só está lendo essa para depois rir da minha letra feia e jogar no lixo com o seu nome riscado. mal te conheço e sinto que tive uma vida ao seu lado, menina. uma vez eu sentei na frente de um laguinho no parque e comecei a te imaginar. então lembrei de uma música que falava sobre você. beatles. nossa, como é que a vida roda. você era só uma garota e eu, um escritor buscando algo que me fizesse escrever. estou escrevendo agora por sua causa. será que você percebeu? olha, estou aqui me desmanchando em palavras que são suas e só suas. não sei como é que você foi me possuir tão intensamente sem ao menos me notar vivo. queria que você viesse buscar suas palavras e seu escritor. tenho um monte de palavras bonitas para te contar.


NDS

domingo, 18 de julho de 2010

à sua memória de pano

eu nunca encaro meus medos. nunca tenho coragem de dizer minhas vontades. então decido que você merece saber uma delas e te digo, em segredo, mas digo. e faço isso morrendo de medo da sua reação. finjo que é algo normal e solto nas suas mãos, sem mais nem menos, que quero te beijar. logo me arrependo de ter dito isso. a vontade continua lá, existindo firme e forte, mas eu não quero arcar com as consequências do que eu disse. é mais fácil dissimular, não? é mais fácil transformar tudo numa brincadeirinha boba. às vezes parece que você me entende e que eu não tô querendo algo impossível. aí logo em seguida não sei mais qual o sentido da conversa. temos uma conversa? temos algo para compartilhar? temos algum tipo torto de amizade mal construída? talvez viver no mundo das letras tenha me tornado um louco em tempo integral. puta merda, que nervoso isso me dá. parou, eu sou super controlado e forte, não preciso ficar com essas coisas aqui querendo transbordar. nessas horas surge aquela violência que me consome fraca e intensa. tem como algo ser fraco e intenso? seria capaz de estourar minha cabeça na parede, só para respirar em paz. seria capaz de sair correndo no meio da rua, debaixo da chuva; correr meia maratona, uma maratona completa, duas ou até três seguidas, só pra te alcançar e dizer - sem ar - que queria você por perto.


NDS

sábado, 17 de julho de 2010

O seu silêncio me corrói por dentro

eu te daria o mundo
se você soubesse abrir a boca e falar
eu te daria um diamante de sangue, te daria meus maiores tesouros
se você ao menos fosse agradecer
mas sua boca não se abre e seus olhos são estáticos
eu te daria um tiro na nuca
e te daria veneno no copo
se pudesse ouvir um grito
ou gemido e sua dor vazando em forma de som vermelho
e te daria as minhas piores palavras
só para te ouvir chorar

queria te ouvir. queria saber da sua voz

queria saber da sua vida.

bebe do meu copo e fala que minha dor

é mais gostosa que viver em silêncio.


NDS

quarta-feira, 7 de julho de 2010

(des)pejo

você do pudor, me desculpe, mas é foda sentar aqui
e não conseguir escrever nada.


NDS

sexta-feira, 25 de junho de 2010

O pasto

Alô, escritor
você que se esconde
em suas palavras
não é poeta nem pensador
Você é mesmo
covarde.


NDS

domingo, 13 de junho de 2010

Fotografia

um monstro de mil bocas dentadas
é o que me resta
do que não presta (e rimar se torna tão patético
que penso em algo estético para completar. mas é tudo
estático demais)
eu peço movimento
exijo reação
reparo em cada letra do que já foi escrito
defeitos demais, penso
defeitos que sempre estiveram ali
se fosse simples...
você não é capaz de ver, Alice?
são novas palavras que solto ao seu ouvido
de principessa (mimada!)
ainda assim
parece que você já ouviu de tudo
e alguém alimenta seu pequeno
amontoado de dentes tortos e pontiagudos
jogando em sua bocarra
o mesmo monte de palavrinhas sórdidas
aquele blablabla que nunca cessa
exclamo com alguma arrogância
(você entenderia se visse)
que sua patifaria é mesmo
enfadonha
e quando vejo
um monstro de mil bocas dentadas
me parece seu retrato pisoteado.


NDS

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Palavrório

Chega uma hora
em que nossa melhor poesia
é aquela que deixamos em branco

Acho que ela quer mesmo
é dizer tudo o que há por dentro
e quando fica em branco
diz tanto
sobre
o
vazio
que até rasga a pele
e o papel

Nesses casos
nem se torna uma boa poesia
É só palavra
sobre
palavra
marcando nossos olhos
e nossas vidas
escritas


NDS

terça-feira, 8 de junho de 2010

Nothing significant

Alice sonha
o mesmo sonho todo os dias
Alice acorda
no mesmo horário todos os dias
Alice bebe
na mesma caneca vermelha
todos os dias
Todos os dias
o mesmo café sem açúcar.

Hello, good morning!
Nós vivemos nesse jogo
e rodamos rodamos rodamos
todos os dias no mesmo tabuleiro
com casas diversas e diversas casas
E é tudo tão desigual
que parece nem fazer sentido
mas não faz mesmo diferença,
você diz.
O dono do jogo não quer
mais brincar
What a good good way to ---!


NDS

sábado, 5 de junho de 2010

Gal.lows

Sem essa coisa que me dão (o que?)
de vez em quando
eu não escrevo.
Não escrevo e vai tudo
caindo aqui dentro.
E dói demais pra aguentar sozinha
Sometimes me dá uma dessas.
Aí eu fico esperando
seiláoque
E fico esperando essa coisa toda
que me dão mas hoje está em falta
(e tá em falta porque todo mundo quer)
Sem essa tal coisa
eu viro um nó
na garganta
e não me foge nada
Vira nó de forca.


NDS

sábado, 29 de maio de 2010

Você é passado

Você me rouba o ar
me rouba a paz
e até a roupa do corpo.
Você tira o que é certo
e planta, descrente que floresça
uma semente de dor e amargura
Você não pesa as medidas
Você não mede as palavras
Você não vê a saída querendo te engolir.
E então você se engole
e devora junto a esperança
porque você é como Pandora
Não se contenta com o que tem
não sabe manter a caixa fechada
não pode viver sem que haja passado
E do passado, não faz mais que
tranformá-lo num presente
sem laços nem embrulho
um presente refugado
um presente aberto e maltratado
que não passa de passado
não passado à frente.


NDS

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Tolice, Alice

Esqueça da poesia-piano.
Alice, ouça bem
não busque mais palavras doces
e se despeça das feias também
(porque as palavras feias, quando são ditas
carregam o maior sentimento em suas letras)
Sobre a cama, não haverá nada
além de ausência
Sob o tapete
deixarei nossas lembranças mais bonitas
E no jardim, me desculpe,
destruí todas as flores
porque o aroma das que você plantou
acabou por me enjoar.
Não me chame em momentos de felicidade
porque me cansei do que é fugaz
E aprendi, como mortal,
que nem mesmo nossos pensamentos ficam.
Caso sinta minha falta,
abra sua velha agenda
e procure por seus amores noturnos
Afinal, o que novos amores fazem
se não preencher o espaço dos velhos?

Alice, sua tolice
me faz rimar.


NDS

terça-feira, 25 de maio de 2010

3vario

Por um segundo, pensei em teu beijo
ainda que o tivesse bem aqui
Parece que mesmo assim
teu corpo não pertence a mim
Me ponho a rimar
- e tu sabes que não rimo -
por vezes danço
Aviso de antemão:
poetas não dançam.
Vou buscar algum remédio
lembro de teu singelo pedido
e me desfaço em pó
em pele em algo que não é nada
além de uma massa moldável
a desejos mudos.
Me desmonto em palavras
que me traduzem melhor que pílulas;
pior que beijos doces que jamais tive.


NDS

domingo, 23 de maio de 2010

Enchanted

Estava eu sentada a seus pés
e lembro bem quando disse:
nada tema, pequena.
E segurava
minha mão
trêmula
prometendo cuidar de mim.
Senti que naquele momento
não havia medo em(tre) nós.
Cedi aos seus parcos encantos
Agora me arrasto
na terra
em que planto canto e pranto.


NDS

sábado, 22 de maio de 2010

bande à part

você é parte do coração
mas parte sem dizer adeus
foi parte de mim outrora
agora é parte das minhas dores
toma parte de outro partido
e à parte, é puro aparte
você me parte o coração


NDS

sábado, 15 de maio de 2010

(seu título aqui)

(tem sempre uma hora em que o poeta não sabe mais o que escrever, a não ser entre parênteses...)


NDS

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Carta de redenção

Oi, escrevo avisando que estou bem. Sei que quando nos vimos pela última vez, eu estava um pouco suja e velha, largada e esquecida em meus próprios aposentos, querendo distância de todos. De você, inclusive. Isso já faz uns três meses, não é? Ou mais, porque me lembro de alguma cor natalina nas ruas. Ou sonhei, porque bem sei que não saí de casa em busca de cores nem nada.
Acho que eu morri. Tenho certeza de que isso me aconteceu. Mas não me deixaram entrar em nenhuma das barcas (céu ou inferno?) e decidiram que me mandariam de volta. Pois então, estou aqui, viva. Não sei ao certo até que ponto estou viva, mas sei que ainda sou carne e osso. Admito que emagreci de forma exagerada... Mas para não me sentir tão mal com isso, me vesti com suas roupas e todas ficaram ótimas em mim, acredita?
Não estou mais morando naquela casinha alaranjada. Quando o proprietário soube que eu estava doente, internada ou seja lá o meu estado naquela época, pediu que eu saísse. Não foi algo gentil, mas ele argumentou que precisava de dinheiro e eu já não pagava o aluguel há algum tempo. Compreendi a situação. Agora me encontro perdida nas ruas de Porto Alegre. Não me pergunte o porquê de ser Porto Alegre. Devo ter me ludibriado com o nome da cidade, pensando que talvez aqui algo me fizesse mais feliz.
Encontrei a felicidade, quebradinha pelos cantos. Moro com uma mãe e seu filhinho num apartamento de dois quartos, logo acima de um inferninho. Sei que não é divertido saber como levo a vida, mas você devia se orgulhar ao ouvir que consegui um emprego sozinha. Não preciso falar mais sobre isso; entenda como quiser. O dinheiro dá para o que eu preciso e, com um pouco de sorte, ainda consigo juntar meus trocados e comprar alguma bobagem que me faça esquecer do mundo por algumas horas.
Conheci uma menina legal. Vocês têm o mesmo nome. Até a pronúncia ela pede que seja a mesma. Isso é engraçado... Mas vocês são muito diferentes. E isso é triste. É triste porque todo dia sinto sua falta. Mesmo quando estou dormindo, você invade meus pensamentos e quando preciso acordar, me beija com delicadeza e contorna meus lábios com suas mãos quentes. Merda, como eu sinto sua falta.
Não sei se fugir daí foi uma boa escolha. Não sei se eu tenho feito boas escolhas nos últimos tempos. Não sei se continuo sendo eu mesma. Não sei nem se você ainda quer saber de mim. Você quer? Eu quero saber de você. Quero acordar daqui uma semana chorando desesperada e te procurando ao meu lado; quero acordar durante a madrugada com um telefonema seu (ainda que eu não tenha telefone por aqui e tenha vendido meu celular para conseguir dinheiro); quero sair de casa numa noite fria e te encontrar com o carro na esquina, me esperando com um abraço e um casaco.
Olha, me desculpa por todo o estrago que fiz na sua vida. Você não sabe como é difícil admitir algumas coisas e chegar aqui, depois de ter sumido sem avisar, escrevendo uma carta tão pessoal de forma tão impessoal. Seria mais adequado que eu voltasse e nós tivéssemos essa conversa ao vivo, não é? Estou trabalhando nisso. Por enquanto, preciso agradecer por ter se cedido tanto e por ter cuidado de mim como nunca cuidaram antes.

Obrigada.
E se me permite as palavras tortas (minhas mãos tremem tanto nesse momento!): eu te amo.

A.
Porto Alegre, 29 de abril de 2010.


NDS