sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Seu veneno

poesia é essa merda de veneno correndo aqui por dentro
corroendo cada parte de carniça velha
que apodrece cada dia mais com palavras amargas
poesia é essa besteira que enfiam nas nossas cabeças
enquanto dormimos ou comemos ou vivemos e morremos
são essas flores mortas cercadas de espinhos e mato
e vem você, jardineiro, e destrói meus canteiros
mastiga os espinhos e vomita na minha porta.

e poesia é isso que nos escapa da boca em forma de gemido
contido e desmedido - porque não faz sentido e nem deve fazer.

aos desavisados, poesia tem rima e tamanho definido
começo meio fim num esquema de começo meio fim
aos destemidos, poesia sequer existe e inexiste
assim sem letra-letra-letra-ponto.
se alguém ainda tem coragem de se dizer escritor
então poesia é tudo
(e só)
o que eles sabem fazer
mas não há tolerância ao escritor-destemido-desavisado
que mal suporta o peso do que se cria.

quando se melhor define, sabemos que é sangue
carne músculo ossos dor
então podemos dizer que isso é a verdadeira poesia
de quem vive como tal.


NDS