sábado, 12 de dezembro de 2009

Capitu fica

Capitu fica.
Ainda que o mar leve embora
não me importa ressaca
não me servem ciganas
Que seja oblíqua,
dissimule-se à vontade.
Vai, ressaca, faz seu trabalho sujo.
Me leva tudo.
Me leva junto.
Tira os medos de um maluco
Tira a sanidade, tira a loucura
Toma como minha
a culpa de outros olhos.
Capitu, fica!


NDS
(24/09/2009)

domingo, 1 de novembro de 2009

Sugar Blues

“Com açúcar, com afeto,
Fiz seu doce predileto
Pra você parar em casa, qual o quê!”


Sentei na cama meio atordoada. Na noite anterior, tinha desfeito meus sonhos, como quem desfaz as malas após longa viagem. Parece que algumas peças nunca reencontram seu lugar. Tentei guardar todos os sonhos que ainda me faziam sorrir. Por fim, larguei uns jogados na cama. Esses ainda me serviriam?
O café quente me pareceu mais amargo. “Sempre sem açúcar, hoje sem afeto”, pensei. Não sei se naquele momento alguém me ouviu, mas um barulho engraçado me levou à cozinha. Sorri com a ironia: Québec, a gata, havia derrubado o açucareiro – o que me trouxe certo desgosto, já que o meu não-consumo de sacarose elevou o pote a uma altura desconfortável, até para um gato.
Enquanto limpava a pequena bagunça, recolhi o açúcar num montinho branco e analisei a cena. Lembrei da primeira vez em que vi neve. Foi um misto de euforia e frustração pueril; não me pareceu nada mágico como os filmes mostravam. Da mesma forme me senti com o açúcar aglomerado pelas minhas mãos, talvez com menos euforia dessa vez, mas ainda muito infantil.
Se os animais sabem interpretar o humor de seus donos, Québec provavelmente estava me provocando ou exigindo reação da minha realidade inerte, não só por derrubar aquela doçura alva, mas também por lamber meus dedos e desfilar com elegância felina na neve que eu acabara de reinventar. Ao passo que ameacei – falsamente – “Te mato, criatura!”, a gata emitiu um miado que me pareceu um riso de deboche e correu.
Depois de toda limpeza e esquema de organização para que nenhuma outra surpresa me assombrasse, voltei pensativa para meu quarto bagunçado de sonhos. Me dei conta de que eles continuavam ali, jogados em cantos que eu desejei nunca mais encostar. Mas me ocorreu também que talvez eu tivesse desencantado deles por falta de doçura – o que é muito estranho, já que sempre me acusaram de ter uma personalidade deveras “melosa”. O fato é que minha gata percebeu sinais que eu ignorei. Me questionei, displicente: “Será que...?” mas não completei os pensamentos.
Acho engraçado quando o medo invade minha vida. Sempre fui muito temerosa, mesmo com coisas pequenas. O que me assombrava agora era medo irracional de me perder junto daqueles sonhos que preferi apagar. Não sei se é a melhor saída para me ver livre de alguns problemas, mas quando sua cabeça é bombardeada dia e noite com informações que, mesmo não querendo, você precisa assimilar, fica difícil compactar lembranças, selecionar acontecimentos bons e realizar todos seus sonhos.
Volto então a dizer como animais sabem usar o sexto sentido: eu já me encontrava deitada na cama, enrolada nos sonhos mais próximos, quase me afundando neles, olhos fechados, punhos em riste, boca semi-aberta (sinal de que o corpo já sentia minha oralidade ameaçada – é por isso que não termino de verbalizar aquilo que penso?)... Talvez se eu me olhasse “de fora”, pensasse estar morta, tamanha a estranheza da cena. Eis que Québec pula certeira em meu estômago – uff! – e me traz à vida como quem é salvo por um desfibrilador e se encolhe assustado.
Pensei novamente no açúcar derrubado... Ajeitando o cabelo, espanei sonhos que se grudavam em meus braços. Com uma caixa de presente meio envelhecida, recolhi todos aqueles que encontrei caídos ao me redor, arrumei-os conforme a data e intensidade. Meus dedos tremeram tentando salvar um ou outro, mas consegui me controlar. Lacrei a caixa.
-Québec, amanhã iremos aos Correios!


NDS

quinta-feira, 9 de julho de 2009

imagine me and you

-desiste.
-eu não. nunca. foda-se o que a minha família pensar ou disser, eu nunca vou desistir de você.

Acho que você pode entender bem isso.


NDS

terça-feira, 30 de junho de 2009

A chegada (ou a partida?)

Te espero sentada no parque.
Te vejo no porto.
Alice, não demore...

NDS

Estranhos

Quem é você, estranho, que tenta me conhecer?

Seus olhos não abrem os meus.

Suas palavras não soam como música.

Minhas palavras não querem mais sair.

Quem é você, estranho, que tenta me forçar?

Não me confunda, não me confundo com o seu olhar.

Não me obrigue a rimar verbos.

Não me obrigue a sorrir em vão.

Quem é você, estranho, que vive na minha janela?

Eu aceito flores.

Eu recuso amores.

Eu não alimento seus mimos.

E tudo o que você disser,

E todos os agrados,

E seu tempo e o seu pecado

Não me trazem nada novo.

Não me levam para o porto.

Não me fazem te amar.



NDS

terça-feira, 12 de maio de 2009

Alice

Eu me sento ao pé da porta
e seguro sua mão.
Te falo sobre meus sentimentos (são bobos demais?)
Digo como sinto sua falta.
"Eu sinto sua falta".
Nós falamos sobre navios
você navega nas minhas pernas
mergulha no meu pensamento
e faz do meu corpo a sua casa.
Eu conto todos meus sonhos
Conto nossos dias
Conto vantagem
só para ficar ao seu lado.
Me enrosco no seu cabelo
me deito nos seus braços
Peço mais atenção.
Peço mais tempo.
Peço mais de você.
Eu quase só vejo seus olhos de ressaca.
e quase nem vejo o resto do mundo.


NDS

Contornando uma muralha

Não sei se eu torno as coisas mais difíceis ou se elas fazem isso por conta própria.


NDS

domingo, 10 de maio de 2009

Passagem (ou O Trem)

Eu sinto que a cada dia que passa, um pedaço de mim passa também.


NDS

Leitura do espelho

Eu sou uma puta insegura, morro de medo de coisas simples.


NDS

terça-feira, 14 de abril de 2009

Green Apple and Pie

Maçã verde e torta
sobre a mesa.
(e só o pensamento da maçã
me faz perder as palavras!)
O doce sabor do azedo
me traz boas lembranças
Você não está nelas.
Só vejo maçã verde e torta
Sobremesa.
Como um pedaço de torta
Não te ofereço nada.
Mais nada.
(Como você;
a torta não está boa).


NDS
(25/09/2008)

terça-feira, 24 de março de 2009

Momento

"Me perdoe, mas não tenho palavras bonitas para rimar no momento. Meu vocabulário se restringe a 'eu te amo' e 'sem você eu não vivo'. Ando dramática, asmática, gaga e com sérios problemas de borboletas no estômago."
É, além de a minha cabeça não funcionar direito quando eu preciso dela, eu consigo ser idiota de uma forma incrivelmente estúpida algumas vezes. E ser idiota com você é pior que ser idiota com todas as outras pessoas do mundo que eu conheço. Ser idiota com você é ser idiota com a minha felicidade.
Eu sei que a distância é ruim nos momentos bons, mas acho que ela consegue ser pior ainda nos momentos ruins, quando eu quero me jogar aos seus pés e ameaçar cortar os pulsos na vertical com fio dental num ato de desespero cego. Eu continuo sendo idiota. Eu continuo me punindo mentalmente por ser assim. Eu continuo chorando pelos meus erros.
Eu continuo te amando. Eu continuo te amando. Eu continuo te amando.
Nessas horas, nem é preciso saber muitos tempos verbais. Me parece que o presente e o futuro são mesmo os únicos que importam. E todos aqueles verbos de ligação que você tanto gosta.
Nessas horas, eu sinto como se o nosso navio da paz verde estivesse partindo sem avisar (mas a âncora continua ali).
Nessas horas, nada mais importa além da sua voz doce falando que me ama e da lembrança linda que eu tenho de você.
Eu te amo.


NDS

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Meu mundo caiu

"Se  meu mundo caiu,
Eu que aprenda a levantar"

 


 

Breve 2008

 

Ao som de uma estonteante Maysa, eu digo que meu mundo caiu. Não por amores loucos, jogos ou álcool; não acho que eu seja uma pessoa que se deixa levar por esses fatores para categorizá-los como a queda de um mundo. Meu mundo caiu por pura incompetência de minha parte. E admito isso com dor e vergonha, pois eu sei que o que fiz e não fiz em 2008 para ver meu pequeno império de sonhos destruído logo nas primeiras semanas do ano.

Talvez com medo de perder uma fase da vida que eu senti que seria única e preciosa - e também extenuante, já que seria meu segundo ano de cursinho - eu não soube dividir meu tempo, minhas necessidades, meus deveres, minhas promessas.

Em janeiro, eu comecei a participar de uma comunidade do orkut em que fiz vários amigos. Boa parte deles falam comigo regularmente até hoje. Conheci as pessoas mais fofas que eu jamais imaginei. Até ganhei um apelidinho novo: Nate. Me lembro de todos os dias que eu fiquei até 5am conversando com todos, rindo e falando besteira. Com as férias, novos habituées apareceram. E eu fui aumentando meu círculo de amizades. Essas coisas à distância que preenchem seus dias e fazem você acordar com um sorriso bobo e os olhos brilhando.

Sobre estudos, comecei o ano prometendo que estudaria mais. Que estudaria muito mais. E que minha escolha de deixar Medicina por outra área não era decorrente da tal "psicologia do fracassado" (doutrina que meu pai vive criticando), e sim por eu ter mudado muito no decorrer do ano anterior. Eu nunca duvidei do meu potencial e sei que se eu quisesse mesmo ser médica, eu estudaria para isso. O fato é que eu não queria ser nada dentre as opções que a família ortodoxa me disponibilizou. Tudo bem, eu me arranjei nessa parte e escolhi que meu futuro seria fazendo Direito (isso foi em meados de março, quando eu já estava na turma de biológicas e mudei de repente para a de humanas).

Serei sincera: foi a melhor mudança da minha vida. É engraçado que foi mesmo uma grande mudança. Eu me sentia menos presa, menos idiota, menos a Natalie isolada. E muito mais viva, mais familiarizada, mais a Natalie que aprendeu a ser sociável! Talvez eu tenha errado na parte do "mais", pois eu sabia que não era a hora de ser a menina simpática e sempre presente em algumas ocasiões.

E foi na sala 17 que eu conheci uma das pessoas que seria, em tão pouco tempo, uma amiga sem tamanho (ai, que brega). Mas vou guardar os comentários sobre a Loira para outra ocasião. Não que eu veja as pessoas como meros acontecimentos, mas como ela foi um acontecimento importante, achei justo mencionar.

Bom, acho que levei a vida nesse clima de despreocupação até agosto, quando papai tirou minha internet e me obrigou a estudar mais! Não vou acusá-lo por isso. Na verdade, acho que foi uma atitude bastante inteligente da parte dele. A esperança era a de que eu dobrasse a jornada de estudo, para o meu próprio bem. Mas eu descobri que na sala, eu conseguia conectar numa rede desprotegida. E descobri também que caso eu estivesse no computador quando ele chegasse do trabalho, minha mãe me avisava para eu não levar bronca. Era uma vida fácil.

Eu me sinto mal revivendo essas coisas. Agora eu posso ver como fui ingênua em pensar que a vida seria fácil assim para sempre. Minhas escolhas tiveram consequências pesadas: não passei nos vestibulares. E eu estava sempre erguendo meus falsos escudos de segurança e confiança, embora já tivesse perdido o controle várias vezes.

Hoje, sentada no alpendre da fazenda, olhando um verde que me dói nos olhos e se mistura com algumas lágrimas, eu tenho medo de voltar para São Paulo e enfrentar a vida de novo. Eu tenho tanto medo do que os outros vão dizer quando olharem para mim. Tenho medo de enfrentar os amigos e a família. Tenho medo dos dias que passam com tanta pressa e parecem me mostrar que eu não posso desistir. Tenho medo de fracassar de novo, porque eu acho que desde o momento que tracei meus planos para 2008, assinei meu contrato com o fracasso.

 

 

NDS