sábado, 29 de maio de 2010

Você é passado

Você me rouba o ar
me rouba a paz
e até a roupa do corpo.
Você tira o que é certo
e planta, descrente que floresça
uma semente de dor e amargura
Você não pesa as medidas
Você não mede as palavras
Você não vê a saída querendo te engolir.
E então você se engole
e devora junto a esperança
porque você é como Pandora
Não se contenta com o que tem
não sabe manter a caixa fechada
não pode viver sem que haja passado
E do passado, não faz mais que
tranformá-lo num presente
sem laços nem embrulho
um presente refugado
um presente aberto e maltratado
que não passa de passado
não passado à frente.


NDS

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Tolice, Alice

Esqueça da poesia-piano.
Alice, ouça bem
não busque mais palavras doces
e se despeça das feias também
(porque as palavras feias, quando são ditas
carregam o maior sentimento em suas letras)
Sobre a cama, não haverá nada
além de ausência
Sob o tapete
deixarei nossas lembranças mais bonitas
E no jardim, me desculpe,
destruí todas as flores
porque o aroma das que você plantou
acabou por me enjoar.
Não me chame em momentos de felicidade
porque me cansei do que é fugaz
E aprendi, como mortal,
que nem mesmo nossos pensamentos ficam.
Caso sinta minha falta,
abra sua velha agenda
e procure por seus amores noturnos
Afinal, o que novos amores fazem
se não preencher o espaço dos velhos?

Alice, sua tolice
me faz rimar.


NDS

terça-feira, 25 de maio de 2010

3vario

Por um segundo, pensei em teu beijo
ainda que o tivesse bem aqui
Parece que mesmo assim
teu corpo não pertence a mim
Me ponho a rimar
- e tu sabes que não rimo -
por vezes danço
Aviso de antemão:
poetas não dançam.
Vou buscar algum remédio
lembro de teu singelo pedido
e me desfaço em pó
em pele em algo que não é nada
além de uma massa moldável
a desejos mudos.
Me desmonto em palavras
que me traduzem melhor que pílulas;
pior que beijos doces que jamais tive.


NDS

domingo, 23 de maio de 2010

Enchanted

Estava eu sentada a seus pés
e lembro bem quando disse:
nada tema, pequena.
E segurava
minha mão
trêmula
prometendo cuidar de mim.
Senti que naquele momento
não havia medo em(tre) nós.
Cedi aos seus parcos encantos
Agora me arrasto
na terra
em que planto canto e pranto.


NDS

sábado, 22 de maio de 2010

bande à part

você é parte do coração
mas parte sem dizer adeus
foi parte de mim outrora
agora é parte das minhas dores
toma parte de outro partido
e à parte, é puro aparte
você me parte o coração


NDS

sábado, 15 de maio de 2010

(seu título aqui)

(tem sempre uma hora em que o poeta não sabe mais o que escrever, a não ser entre parênteses...)


NDS

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Carta de redenção

Oi, escrevo avisando que estou bem. Sei que quando nos vimos pela última vez, eu estava um pouco suja e velha, largada e esquecida em meus próprios aposentos, querendo distância de todos. De você, inclusive. Isso já faz uns três meses, não é? Ou mais, porque me lembro de alguma cor natalina nas ruas. Ou sonhei, porque bem sei que não saí de casa em busca de cores nem nada.
Acho que eu morri. Tenho certeza de que isso me aconteceu. Mas não me deixaram entrar em nenhuma das barcas (céu ou inferno?) e decidiram que me mandariam de volta. Pois então, estou aqui, viva. Não sei ao certo até que ponto estou viva, mas sei que ainda sou carne e osso. Admito que emagreci de forma exagerada... Mas para não me sentir tão mal com isso, me vesti com suas roupas e todas ficaram ótimas em mim, acredita?
Não estou mais morando naquela casinha alaranjada. Quando o proprietário soube que eu estava doente, internada ou seja lá o meu estado naquela época, pediu que eu saísse. Não foi algo gentil, mas ele argumentou que precisava de dinheiro e eu já não pagava o aluguel há algum tempo. Compreendi a situação. Agora me encontro perdida nas ruas de Porto Alegre. Não me pergunte o porquê de ser Porto Alegre. Devo ter me ludibriado com o nome da cidade, pensando que talvez aqui algo me fizesse mais feliz.
Encontrei a felicidade, quebradinha pelos cantos. Moro com uma mãe e seu filhinho num apartamento de dois quartos, logo acima de um inferninho. Sei que não é divertido saber como levo a vida, mas você devia se orgulhar ao ouvir que consegui um emprego sozinha. Não preciso falar mais sobre isso; entenda como quiser. O dinheiro dá para o que eu preciso e, com um pouco de sorte, ainda consigo juntar meus trocados e comprar alguma bobagem que me faça esquecer do mundo por algumas horas.
Conheci uma menina legal. Vocês têm o mesmo nome. Até a pronúncia ela pede que seja a mesma. Isso é engraçado... Mas vocês são muito diferentes. E isso é triste. É triste porque todo dia sinto sua falta. Mesmo quando estou dormindo, você invade meus pensamentos e quando preciso acordar, me beija com delicadeza e contorna meus lábios com suas mãos quentes. Merda, como eu sinto sua falta.
Não sei se fugir daí foi uma boa escolha. Não sei se eu tenho feito boas escolhas nos últimos tempos. Não sei se continuo sendo eu mesma. Não sei nem se você ainda quer saber de mim. Você quer? Eu quero saber de você. Quero acordar daqui uma semana chorando desesperada e te procurando ao meu lado; quero acordar durante a madrugada com um telefonema seu (ainda que eu não tenha telefone por aqui e tenha vendido meu celular para conseguir dinheiro); quero sair de casa numa noite fria e te encontrar com o carro na esquina, me esperando com um abraço e um casaco.
Olha, me desculpa por todo o estrago que fiz na sua vida. Você não sabe como é difícil admitir algumas coisas e chegar aqui, depois de ter sumido sem avisar, escrevendo uma carta tão pessoal de forma tão impessoal. Seria mais adequado que eu voltasse e nós tivéssemos essa conversa ao vivo, não é? Estou trabalhando nisso. Por enquanto, preciso agradecer por ter se cedido tanto e por ter cuidado de mim como nunca cuidaram antes.

Obrigada.
E se me permite as palavras tortas (minhas mãos tremem tanto nesse momento!): eu te amo.

A.
Porto Alegre, 29 de abril de 2010.


NDS

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Recado

Quero te escrever já faz três dias. Chego a pensar que fazendo isso, vou dizer tantas coisas feias e sujas sobre mim que sua primeira reação será um ruído de desaprovação daqueles que me deixam petrificada.
Não sei ao certo o que devo dizer. Não sei se posso dizer o que eu vejo ou se o mais correto e permanecer quieta e deixar que você descubra sozinha.
Olha, eu faço um monte de besteiras, mas eu sei fazer coisas certas também.
Olha, eu te irrito com o meu draminha, mas também sei segurar meus pensamentos quietinhos aqui dentro.
Olha, eu brinco na hora errada, mas sei quando devo ficar séria e ouvir em silêncio.
Olha, todas essas coisas feias que eu faço - não sei por qual motivo - servem para mostrar (para mim mesma, no caso) que não sou esse erro todo.
E faço algo tão estúpido que minutos depois chego a me questionar "Mas eu nem sou assim! Por que estou agindo como uma criancinha pedindo atenção?".
Então eu fico aqui sentada pensando em você, pensando em como eu sou idiota e como eu só queria saber que enquanto você lê esse monte de baboseiras, você sorri sem graça e me manda um beijo. Ou me pede para sorrir. E eu encontro, sei lá de onde, meus melhores sorrisos para te dar e imaginar que isso te faz feliz.
A verdade é que eu queria - eu quero - te ver feliz. E se for por minha causa, vai ser melhor ainda. Eu tô com um medo tão ridículo de tentar ser mais doce com você que só fico falando coisas feias para tentar te afastar de mim. Mas... Oi, eu não quero que você se afaste! Aí penso de novo nas coisas que eu já disse, e nas minhas precipitações (hoje eu já estou mais calma) e no monte de medo que todo mundo tem. Será que é melhor eu deixar você me temer a ponto de querer se afastar ou eu devo ser a Alice Natalie da forma mais pura e verdadeira que existe, sem querer parecer adulta ou criancinha ou legal ou chata ou qualquer outra coisa que eu possa passar a falsa impressão de ser?
Acho que escrever isso é outro daqueles erros que eu vou cometer e querer bater com a cabeça na parede dois minutos depois, mas hoje eu decidi ser impulsiva de novo e fazer isso, para mostrar que eu posso ser uma pessoa que talvez mereça um pouquinho de paciência. Ou não.
E se você der ao menos um sorrisinho durante esse monte de palavras desordenadas, já valeu meu dia.


NDS

domingo, 2 de maio de 2010

Isto é uma ANARQUIA

O vento me consome
pensando que talvez seja amor.

Vento burro!
Sabe que apenas se assemelha
ao amor
por me congelar friamente (a alma)
e bagunçar meus cabelos.


NDS