quinta-feira, 30 de junho de 2011

Invisível

acordei invisível.
decidi que não poderia ser vista por ninguém.
consegui. passei o dia sem ser vista nem notada.
passei o dia sem preencher retinas nem pensamentos, porque tenho a incrível habilidade de me tornar invisível também a pensamentos.
passei um dia como todos os outros, esquecida e apagada.
nada novo. nada diferente.
andei pelos mesmo lugares e rodopiei na frente das mesmas pessoas. nada. nenhuma reação, nenhum sinal de que eu deveria estar ali ou de que me queriam por perto.
como eu disse: nada novo, nada diferente.
fui dormir invisível.
e passei todos os outros dias do mesmo jeito.


NDS

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Fantasma

escrevo por dentro o que não posso falar
e escondo de mim mesma essas palavras quentes
que não queimam nem ardem
mas são duras e pesadas o suficiente
para seguir em frente

vou andando de lado

- me falta um cavalo alado, que rime mais profundamente que essas
palavras vãs -
e vou encostando, sem querer,
nas paredes que te protegem
tão altas e frias
cruas

um corte no braço

um corte no rosto
e eu continuo andando,
me escondendo
te escondendo
porque há vergonha
além de todo o resto

"não dá, não dá"

mas seus tijolos barrosos
me empurram e pressionam
"dá. dá, sim"
e eu continuo arranhando
o alvo e pálido manto
que me envolve,
fantasma

quase me escapa

sufocado
um grito de dor
mas eu controlo o mundo
e continuo
vou escrevendo em gelo
dentro desse medo branco.


NDS

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Noturno

está anoitecendo
e eu não ando sozinha por aí

a cada dia, anoitece mais cedo

na rua e no coração
e escurece por dentro
passo a passo
no parque e no coreto

eu não ando sozinha

está anoitecendo

em mim
uma noite fria
chuvosa
uma noite fria
tempestuosa

uma noite daquelas

em que só se aguenta
nos braços de outro

a noite não para

avança, criança,
pra cima de mim

e meu medo só lembra de dizer

letra a letra
passo a passo
que não ando sozinha por aí


NDS