sábado, 13 de março de 2010

cinzazularanja

Eu sento e fico pensando nas coisas da vida. Nas coisas todas que eu... Eu não sei de mais nada. Minhas partes estão se desfazendo de novo. DE NOVO? E tudo fica rodando e eu quero respostas e a única resposta que eu tenho é uma cama com você no meu colo. Eu no seu colo. Quero colo. Quero a semana correndo com o tempo fugindo, um café, arrepio, chuva fina pra bagunçar o cabelo. Quero mesmo é não ter medo. Por que tá me dando medo bem agora? Vem me salvar dessa cidade que tá querendo me afogar. É gente demais e meu mundo é tão pequeno. Vem me salvar. Vem logo e me tira do terror. Eu tenho medo de escuro, você sabe. Não apaga a luz quando sair de casa, porque eu tenho medo. Não apaga, eu disse. Não me deixa sozinha no escuro, não quero usar a lanterninha agora, porque eu vou ver coisa demais. Meus olhos estão doendo porque eu tô chorando pra dentro. Minha cabeça tá gritando. Tá gritando alto demais pra eu conseguir pensar direito. Mas eu também não sei se quero pensar em alguma coisa. Posso pensar só em você? Posso não pensar em nada? Posso só ficar aqui deitada, olhando pro teto? Deixa, eu arrumo a cama. Eu arrumo essa bagunça toda. Desculpa ter quebrado seu espelho. Desculpa ter quebrado a garrafa de vinho tinto na parede branca. Desculpa ter quebrado seu coração. O tempo não vai voltar agora. Ou se voltar, vai estar riscadinho, lembra? Você disse que era riscadinho. Não vou alterar nada, nem quero. Tá bom assim. Não, não tá bom. A cabeça continua gritando. Mas se você ficar aqui comigo, segurando minha mão, vai ficar tudo bem, eu sei. Tá, pode apagar a luz. Assim eu não vejo a dor que come minha carne. É um verme. É um verme daqueles que se alimenta de carne com dor. Mas nem tá doendo tanto. Não tá doendo porque você me beija e aí a dor vai embora. Mas ela volta quando você me deixa. Ela senta do meu lado no metrô lotado. Fica sempre o espaço dela livre. Acho que ninguém tem coragem de sentar lá. Eu vou contando minhas moedas pra chegar em casa. Posso ficar na sua casa hoje? Eu não vou arrumar tudo daquele meu jeito doentio. Nem quero arrumar. Minha cabeça não tá arrumada hoje. Minha garganta tá arranhando. Acho que é alguma coisa que eu bebi. Não tá descendo direito. Pode ser uma daquelas pedras que eu cuspi longe também. Eu não posso ficar me engasgando à toa. Eu te ouço cantando nos meus sonhos. É só você que me faz cantar. Havia mil motivos pra eu não estar naquele show. Afinal, não vou sair sozinha por aí. Vai que eu começo a chorar bem na parte mais bonita da música. Vai que eu pego no sono e não volto pra casa. Você vai sentir minha falta? Quem vai sair atrás de mim na noite dessa cidade sem noite? Quem vai me dizer pra não desesperar quando meu coração já não souber mais o ritmo de nada? Dá pra fechar a janela? Tá ventando na minha cara e vai bagunçar meu cabelo. O céu? Tá cinza. E azul. E laranja. Acho que é... Cinzazularanja o nome dessa cor. Mas não combina com o dia de hoje. Não combina porque hoje eu queria o céu todo escuro. Não me importa se você acha que tá bonito. Eu tô falando o que eu acho. Olha, não faz esse tom de voz. Esse aí. Tá falando toda seca comigo. Deve achar que eu não percebo. Tudo bem, tudo bem. Não, não tô sendo grossa agora. Ai, vou dormir. Você tá me irritando. Não, ela tá me sufocando. Calma, tá tudo enrolando aqui dentro de novo. Eu preciso de ar. Dá pra abrir a janela? Eu tô com fome, mas não quero comer isso aí. Quero alguma comida diferente. Pode ser você. Faz uma dança pra mim. É, dança, dança, remexe o corpo. É, minha cabeça tá mesmo rodando. Parece aquela... Aquela... Como é mesmo aquela palavra? Deixa pra lá. Tô me cansando. Não é de você, boba. É dessa vida toda. Ainda não entendi o que tá acontecendo. Não tem como entender, né? Você me ama? Ama mesmo? E se acontecer alguma coisa e você deixar de me amar? Eu morro. Nossa, meus olhos agora estão fechando. E eu nem tomei o remédio hoje. Se bem que ele não tá mais fazendo efeito. Não por esses dias. É, acho que já deu minha hora. Logo eu caio aqui na sua frente e começo a babar no lençol. Pode me cobrir? Quero beijo. Quero mais. Quero carinho. Deita aqui do meu lado. Eu te amo, sabia? Agora me deixa dormir.


NDS