terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Meu mundo caiu

"Se  meu mundo caiu,
Eu que aprenda a levantar"

 


 

Breve 2008

 

Ao som de uma estonteante Maysa, eu digo que meu mundo caiu. Não por amores loucos, jogos ou álcool; não acho que eu seja uma pessoa que se deixa levar por esses fatores para categorizá-los como a queda de um mundo. Meu mundo caiu por pura incompetência de minha parte. E admito isso com dor e vergonha, pois eu sei que o que fiz e não fiz em 2008 para ver meu pequeno império de sonhos destruído logo nas primeiras semanas do ano.

Talvez com medo de perder uma fase da vida que eu senti que seria única e preciosa - e também extenuante, já que seria meu segundo ano de cursinho - eu não soube dividir meu tempo, minhas necessidades, meus deveres, minhas promessas.

Em janeiro, eu comecei a participar de uma comunidade do orkut em que fiz vários amigos. Boa parte deles falam comigo regularmente até hoje. Conheci as pessoas mais fofas que eu jamais imaginei. Até ganhei um apelidinho novo: Nate. Me lembro de todos os dias que eu fiquei até 5am conversando com todos, rindo e falando besteira. Com as férias, novos habituées apareceram. E eu fui aumentando meu círculo de amizades. Essas coisas à distância que preenchem seus dias e fazem você acordar com um sorriso bobo e os olhos brilhando.

Sobre estudos, comecei o ano prometendo que estudaria mais. Que estudaria muito mais. E que minha escolha de deixar Medicina por outra área não era decorrente da tal "psicologia do fracassado" (doutrina que meu pai vive criticando), e sim por eu ter mudado muito no decorrer do ano anterior. Eu nunca duvidei do meu potencial e sei que se eu quisesse mesmo ser médica, eu estudaria para isso. O fato é que eu não queria ser nada dentre as opções que a família ortodoxa me disponibilizou. Tudo bem, eu me arranjei nessa parte e escolhi que meu futuro seria fazendo Direito (isso foi em meados de março, quando eu já estava na turma de biológicas e mudei de repente para a de humanas).

Serei sincera: foi a melhor mudança da minha vida. É engraçado que foi mesmo uma grande mudança. Eu me sentia menos presa, menos idiota, menos a Natalie isolada. E muito mais viva, mais familiarizada, mais a Natalie que aprendeu a ser sociável! Talvez eu tenha errado na parte do "mais", pois eu sabia que não era a hora de ser a menina simpática e sempre presente em algumas ocasiões.

E foi na sala 17 que eu conheci uma das pessoas que seria, em tão pouco tempo, uma amiga sem tamanho (ai, que brega). Mas vou guardar os comentários sobre a Loira para outra ocasião. Não que eu veja as pessoas como meros acontecimentos, mas como ela foi um acontecimento importante, achei justo mencionar.

Bom, acho que levei a vida nesse clima de despreocupação até agosto, quando papai tirou minha internet e me obrigou a estudar mais! Não vou acusá-lo por isso. Na verdade, acho que foi uma atitude bastante inteligente da parte dele. A esperança era a de que eu dobrasse a jornada de estudo, para o meu próprio bem. Mas eu descobri que na sala, eu conseguia conectar numa rede desprotegida. E descobri também que caso eu estivesse no computador quando ele chegasse do trabalho, minha mãe me avisava para eu não levar bronca. Era uma vida fácil.

Eu me sinto mal revivendo essas coisas. Agora eu posso ver como fui ingênua em pensar que a vida seria fácil assim para sempre. Minhas escolhas tiveram consequências pesadas: não passei nos vestibulares. E eu estava sempre erguendo meus falsos escudos de segurança e confiança, embora já tivesse perdido o controle várias vezes.

Hoje, sentada no alpendre da fazenda, olhando um verde que me dói nos olhos e se mistura com algumas lágrimas, eu tenho medo de voltar para São Paulo e enfrentar a vida de novo. Eu tenho tanto medo do que os outros vão dizer quando olharem para mim. Tenho medo de enfrentar os amigos e a família. Tenho medo dos dias que passam com tanta pressa e parecem me mostrar que eu não posso desistir. Tenho medo de fracassar de novo, porque eu acho que desde o momento que tracei meus planos para 2008, assinei meu contrato com o fracasso.

 

 

NDS