quarta-feira, 16 de julho de 2008

Verbum

“Suas palavras rasgaram meu mundo
Suas desculpas cortaram tão profundo minha alma e sonhos
E todos os planos que não realizamos
Você foi tão insensível...”

Senti que naquele momento tudo ia acabar. O chão tremia exatamente embaixo dos meus pés.
Vi as flores murchando algumas semanas antes, mas achei que fosse o ciclo da vida. Talvez fosse, se elas tivessem deixado algum fruto. Não deixaram.
Na estante, alguns dos meus livros estavam tombados. Tive a sensação de que eles queriam que eu fosse lá e arrumasse-os, um por um, folheando e sentido tanto o cheiro quanto a textura de suas capas.
Não eram as únicas coisas que me provocavam. Não. Naquele momento, justo quando eu sentia o chão fugindo, toda a minha bagunça parecia querer que eu reagisse. Mas eu estava desatenta aos sinais.
Vou ser sincera: deixei meus cadernos de lado, me afastei das poesias novas e evitei cruzar com as antigas. Elas saberiam exatamente o que me dizer. O fato é que não estava disposta a ouvir. É provável que agora elas estejam chateadas comigo, vou entender perfeitamente. Não, perfeitamente não. Mas vou fingir que sim. Imaginem que eu terei de enganar minhas palavras para que elas não se voltem contra mim! Mais irônico que isso, só se eu disser que ludibriei essas queridas palavras para que elas ficassem confusas.
Olhei para aquele monte de letras reunidas em ordem, mas sem conteúdo. Estava prestes a me culpar por tudo, se não fosse aquela única palavra em destaque.
Senti que naquele momento tudo ia acabar. Todos os meus problemas deixariam de existir, meus medos seriam levados e eu conseguiria ficar. Conseguiria ficar por causa de uma única palavra, mais forte que qualquer desculpa ou plano que me ocorresse no momento. Mais forte que o chão fugindo dos meus pés.


NDS